Como fazer uma análise histórica?
Um método de análise histórica para
estudos baseados na Teoria Histórico-cultural da Atividade
Por
Marco Antonio Pereira Querol 1
1 Professor
Adjunto no Departamento de Engenharia Agronômica da Universidade Federal de
Sergipe, Brasil. mapquero@gmail.com
Resumo
Este
estudo apresenta um método de análise histórica fundamentado na Teoria da
Atividade Histórico-Cultural (TAHC), desenvolvido para reconstruir a trajetória
de desenvolvimento de um sistema de atividade. O método integra os princípios
de historicidade para identificar eventos críticos e fases de desenvolvimento.
Com base no caso do Programa de Produção Suína Sustentável (Programa 3S), o
estudo demonstra como os eventos históricos podem ser interpretados por meio de
conceitos analíticos como período, eventos históricos, eventos críticos, fases
de desenvolvimento e o modelo de um sistema de atividade, revelando
transformações em seu objeto e estrutura. A contribuição teórica do método
reside na operacionalização do princípio da historicidade em pesquisas
empíricas e na oferta de ferramentas analíticas para compreender mudanças de
longo prazo nas atividades de trabalho. Do ponto de vista prático, o método
fornece um referencial para pesquisadores e profissionais analisarem e apoiarem
processos transformadores em diversos contextos para o desenvolvimento do
trabalho e resolução de problemas sociais.
Palavras-chaves: Análise histórica,
historicidade, Teoria da Atividade, história.
1. Introdução
A historicidade é um princípio
fundamental tanto no ponto de vista teórico como metodológico em estudos usando
a Teoria Histórico Cultural da Atividade - THCA (Engeström, 1987,
1999; Scribner, 1985) e o método
intervencionista do Laboratório de Mudança (Engeström et al.,
1996; Virkkunen & Newnham, 2013).
A historicidade é um conceito ou
princípio que propõe que toda atividade humana é um processo histórico em
constante transformação, e que só pode ser compreendida plenamente se analisada
em seu desenvolvimento ao longo do tempo (Sannino
& Engeström, 2018). A historicidade é consequência das
pressuposições filosóficas básicas da dialética materialista, da qual a
abordagem teórica se baseia: contradição e movimento (Ilyenkov, 2008; Miettinen, 2000). Como mencionado em
outras publicações, a THCA entende o mundo em movimento impulsionado por contradições
dentro e entre os elementos de sistemas de atividade (Sannino &
Engeström, 2018). O
desenvolvimento é movido por contradições internas a um sistema. Portanto, se
queremos entender o porquê de u sistema ser como é, precisamos rastrear o
processo e as contradições que o levaram a situação atual.
Por uma atividade ser processual
e estar em movimento, o pesquisador deve utilizar uma metodologia que permita
analisar o fenômeno em transformação, ou seja, através de uma análise da
histórica. Essa análise faz uso de dados longitudinais em diferentes escalas
temporais. Dados longitudinais são dados coletados ao longo do tempo e permitem
observar mudanças, tendências e padrões de evolução. Dentre as primeiras
metodologias de pesquisa voltadas à análise e ao desenvolvimento de uma
atividade, destaca-se a Pesquisa de Desenvolvimento do Trabalho (Developmental
Work Research, em inglês), proposta por Engeström (1987). Segundo o autor,
a compreensão do aprendizado expansivo exige a combinação de métodos em
diferentes escalas temporais, entre eles: uma fenomenologia (uma descrição do
problema, atores envolvidos e funcionamento da atividade estudada), a análise
teórico-histórica, a análise histórica do objeto e a análise empírica do
presente (Engeström,
1987; Engeström et al., 2005).
Aqui vou focar na chamada análise
histórica do objeto (object-historical analysis em inglês). Apesar do
nome, essa análise, implica também em identificar e analisar as fases
sucessivas de desenvolvimento do sistema de atividade. Seu objetivo não é
apenas a periodização, mas, sobretudo, revelar as contradições que dão origem
às transições de uma fase de desenvolvimento para outra (Engeström,
1987). Para
tanto se usa dados de uma escala temporal mais ampla, geralmente abrangendo
meses, anos, ou em alguns casos até décadas. Aqui o tempo cronológico não é tão
importante, mas sim captar o desenvolvimento de um sistema. A análise histórica
do objeto tem como função formular hipóteses da estrutura do sistema, suas
contradições e desenvolvimento.
Tais hipóteses são posteriormente
refinadas e detalhadas com uma análise chamada de análise empírica atual, que
como o nome indica são análise do presente, e usa como dado um espectro de
tempo menos amplo e reflete o estado de desenvolvimento atual de uma atividade.
Em resumo, a análise histórica permite
produzir generalizações que Davydov (1990) chama de generalizações teórico
genéticas, que são explicações da origem e desenvolvimento de um sistema (Davydov,
1990). A
análise empírica atual pode envolver por exemplo, análise de manifestações
discursivas de distúrbios e inovações. Ambas as análises históricas e a
empírica atual se complementam.
Durante uma intervenção da
Laboratório de Mudança que é um método intervencionista que combina pesquisa e desenvolvimento
também se conduz análises históricas (Engeström
et al., 1996; Virkkunen & Newnham, 2013). Primeiramente, se
conduz uma antes das sessões, permitindo que os pesquisadores-intervencionistas
se orientem e planejem o processo de aprendizagem. Durante as sessões, a
análise é retomada como ferramenta conceitual e formativa, apoiando tanto os
participantes quanto o intervencionista na criação de novos conceitos e na
ampliação do aprendizado coletivo. Por fim, pode ser realizada após a
intervenção, quando utilizada como método de pesquisa para examinar os dados
coletados e responder a uma ou mais perguntas de pesquisa. O método apresentado
a seguir refere-se a essa última forma de análise — mais refinada e criteriosa
— conduzida pelo pesquisador com finalidade analítica. Embora possa recorrer
aos dados das análises realizadas antes e durante a intervenção, trata-se de um
procedimento distinto, voltado especificamente à produção de conhecimento
científico.
Muitos estudos já foram
realizados conduzindo análises históricas através da THCA (Kajamaa, 2012;
Mäkitalo, 2005; Querol, 2011). No entanto, para o meu
conhecimento, nenhum estudo foca no método em si, os conceitos analíticos e
apresentando o passo a passo para conduzir uma análise histórica.
O objetivo deste estudo é
discutir o que é, a relevância e como fazer uma análise histórica do objeto. O
estudo visa responder as perguntas: que é uma história? Quais dados podem ser
usados? Como construir uma narrativa histórica? Quais conceitos analíticos se
pode usar? E como interpretar e formular hipótese de contradições? Para
ilustrar o método e os conceitos apresentados utilizarei como base um estudo
prévio conduzido por mim sobre o desenvolvimento de um programa de
sustentabilidade na produção de suínos no Brasil chamado Programa 3S.
A seguir, apresento os
principais conceitos analíticos utilizados. Depois, descrevo os tipos de dados
empregados e o modo como foram preparados para a análise. Em seguida, explico o
método, detalhando o passo a passo da construção da narrativa e o processo de
interpretação teórica. Por fim, exponho os resultados da análise empírica da
história do Programa 3S e apresento as conclusões do estudo.
2. História
e conceitos analíticos
Segundo a definição do
dicionário da Cambridge, história é “o estudo ou um registro de eventos
passados considerados em conjunto, especialmente eventos de um período, país ou
tema específico" (Cambridge
Dictionary, 2025). Na THCA
história pode ser entendida tanto como a ciência que estuda eventos passados,
como o seu produto, ou seja, uma narrativa que relata uma sequência de eventos
históricos. Um evento pode ser definido como algo que ocorreu, sendo tanto uma
ação na qual alguém, um ator ou agente (indivíduo, grupo, organização,
comunidade, país) fez algo; quanto um evento natural (ex: um deslizamento, uma
tempestade, a erupção de um vulcão). Porém, por mais real que um evento seja,
isso não significa que uma história é totalmente imparcial. O que podemos fazer
é tornar os critérios os mais explícitos e claros possíveis a fim de evitar a
parcialidade e permitir ao leitor julgar e entender a perspectiva e potenciais
vieses.
Devido à complexidade da
realidade, não é possível se contar todos os eventos que ocorreram no passado.
Alguns eventos devem ser escolhidos para entrar na narrativa. Ao escolher
certos eventos, inevitavelmente se excluem outros. Dependendo dos eventos escolhidos,
pode-se favorecer uma perspectiva e se excluir outras. História foi e é usada
como uma forma de exercer o poder.
Para poder ser considerada
científica e minimizar a parcialidade de uma narrativa histórica, os pesquisadores
devem explicitar os critérios de seleção dos eventos, assim como os conceitos
teóricos e analíticos usados na sua interpretação. A seguir apresentarei alguns
desses conceitos analíticos que podem ser usados em uma análise histórica do
objeto baseada na THCA (Querol, 2011).
2.1
Eventos históricos e críticos
Para analisar o desenvolvimento
histórico de um sistema pode-se usar como unidade de dados um evento histórico.
Unidade de dado refere-se ao menor elemento de informação que é coletado,
registrado e analisado no estudo. Sewell Jr. (1992, p.16) define eventos
históricos como “ocorrências que têm consequências significativas na história”.
Como ele sugere, os eventos são concebidos como sequências de ocorrências que
resultam em transformações das estruturas (Sewell
Jr, 1996, p. 17). Um
conceito de estrutura deve ser capaz de (1) reconhecer a agência dos atores
sociais, (2) incorporar a possibilidade de mudança no próprio conceito de
estrutura e (3) superar a divisão entre as visões semióticas e materiais da
estrutura. Para formular seu conceito de estrutura, Sewell (1992) utiliza a
teoria da estruturação de Giddens, na qual as estruturas são consideradas
processos e não estados fixos.
A análise de uma sequência de
eventos não deve considerar todos os eventos, mas apenas aqueles que alteram as
relações entre os elementos do sistema, que representa a estrutura de uma
atividade humana. O conceito de evento histórico proposto por Sewell Jr. (1992)
é bastante semelhante ao conceito de um evento histórico proposto por Poole
(2000) que o define como ações que transformam a estrutura de uma atividade (Poole
et al., 2000, p. 170). Esse
conceito se aproxima também do conceito de eventos críticos, entendido como eventos
que resultam em mudança na estrutura de um sistema de atividade (Toiviainen,
2003).
A THCA é compatível com a ideia
de Sewell de que estrutura e processos estão dialeticamente conectados: a
estrutura molda o processo, e o processo afeta a estrutura. Uma atividade é
sempre um processo de produção de um objeto que direciona e motiva as ações dos
sujeitos, que é mediada por uma estrutura de uma atividade, pelo modelo de um
sistema de atividade (Engeström, 1987). A atividade é processual,
uma sequência de ações. Para conduzir essas ações os indivíduos utilizam
mediadores que fazem parte da estrutura.
2.2
Ciclo desenvolvimental e fases de
desenvolvimento
Para compreender as mudanças
qualitativas no curso do desenvolvimento, é necessário o conceito de período.
Um período é um “trecho” da história em que algo essencialmente novo se instaura
e evolue e pode alterar a direção do desenvolvimento. Um período é geralmente
entendido como um tempo durante o qual o princípio e a direção do
desenvolvimento permanecem os mesmos, e o período muda quando os mesmos mudam (Querol,
2011).
Nessa definição, é necessário
lidar com o conceito de direções do desenvolvimento. É importante diferenciar
entre períodos históricos e períodos desenvolvimentais. Todos os períodos são
históricos, mas nem todos são desenvolvimentais. Algo pode mudar, mas não
necessariamente constitui desenvolvimento. Desenvolvimento, aqui, significa
superar uma contradição interna essencial de um determinado sistema em estudo.
Está relacionado a um valor ou a uma direção preferível a ser seguida. Em uma
pesquisa, o pesquisador não está interessado em todos os tipos de períodos, mas
especificamente por aqueles em que há desenvolvimento do objeto em estudo. Os
períodos sempre se referem ao tempo. Um período é um fluxo de eventos
históricos que compartilham uma característica significativa própria. Na
análise dos períodos de uma atividade, os períodos estão relacionados ao objeto
de uma atividade ou de uma rede de atividades (Querol,
2011).
Um período desenvolvimental pode
ser comparado ao ciclo de aprendizagem expansivo. É importante, contudo,
distinguir duas representações complementares de um mesmo fenômeno: o ciclo de ações
de aprendizagem expansiva e o ciclo de aprendizagem expansiva. O ciclo de ações
de aprendizagem expansiva descreve as ações de aprendizagem realizadas pelos
sujeitos (como questionar, analisar, modelar e implementar), enquanto o ciclo
de aprendizagem expansiva representa as fases de transformação e
desenvolvimento da própria atividade coletiva.
Um período desenvolvimental seria
um espaço de tempo no qual o objeto permanece imutável, e um novo período
começa quando o objeto da atividade muda. O ponto do ciclo de aprendizagem
expansiva no qual um novo objeto da atividade é criado, é considerado como
ponto no qual um novo período surge. Nessa interpretação, um período pode se
referir tanto a um ciclo expansivo, repetitivo como retrativo. Essa
classificação está diretamente relacionada ao objeto da atividade. Os ciclos
expansivos ocorrem quando o objeto da atividade se expande — ou seja, quando
adquire novas características qualitativas e se torna mais rico. Em contraste,
em um ciclo repetitivo, o objeto permanece em grande parte inalterado, enquanto
em um ciclo contrativo o objeto se reduz, perdendo algumas de suas qualidades
anteriormente estabelecidas.
Usando o ciclo de aprendizado
expansivo como estrutura de análise de um período, podemos dividi-lo em fases,
de acordo com a natureza e dinâmica do processo de mudança. Uma fase
corresponde a um momento do processo de desenvolvimento no qual predomina um
tipo específico de contradição no sistema. Essas contradições são as forças
motrizes que geram a dinâmica da mudança característica de cada fase (Querol,
2011). No
ciclo de aprendizagem expansiva temos as fases de estado de necessidade,
vínculo duplo, fase de surgimento de um novo objeto, implementação e
consolidação (Engeström &
Sannino, 2010).
A identificação dos períodos
desenvolvimentais pode representar um desafio analítico, sobretudo porque as
fronteiras entre um período e outro nem sempre são claramente demarcadas. Uma
estratégia útil consiste em utilizar a periodização proposta pelos próprios
participantes ou entrevistados, observando como eles narram as mudanças em suas
atividades ao longo do tempo.
A seguir, a fim de ilustrar os
conceitos analíticos mencionados, será apresentada uma análise de um programa
de produção sustentável de suínos chamado programa 3S implementado por uma
grande agroindústria brasileira no início dos anos 2000. O objetivo da análise
foi avaliar se as mudanças dentro do período são ou não expansivas (Querol et al.,
2010; Querol & Seppänen, 2009).
3. Dados
históricos e métodos de coleta
Aqui vou abordar as questões: quais
dados podem ser usados em uma análise histórica e como coletá-los?
3.1
Tipo de dados
É importante que a análise
histórica seja baseada em dados qualitativos primários que se complementem a
fim de aumentar a validade e confiabilidade deles, com o por exemplo, entrevistas
com informantes-chave e documentos. As entrevistas forneceram a vantagem de
mostrar e situar o pesquisar dando uma “visão geral” da sequência de eventos e
dos resultados, o que ajudou a identificar os eventos mais importantes (Poole
et al., 2000). No entanto, esse processo é tendencioso e pode ser falho pois
depende da memória das pessoas. As pessoas esquecem eventos que poderiam ser
relevantes. Além disso, as pessoas não conseguem lembrar com precisão as datas
dos eventos. Para superar essa limitação, recomenda-se utilizar documentos. Os
dados arquivados têm várias vantagens, como o fato de que levam muito menos
tempo para serem coletados e detalham eventos que as pessoas podem ter
esquecido (Poole et al., 2000).
3.2
Coleta e organização dos dados
Documentos históricos
Os documentos podem ser
coletados de diferentes formas. No estudo sobre a história do Programa 3S de
sustentabilidade na produção de suínos, o tipo de documento variou de acordo com
o período analisado. Coletei documentos durante minha visita aos escritórios da
empresa e obtidos pela Internet, provenientes de sites oficiais de instituições
ou de outras fontes. Esses documentos incluem documentação de projetos, cartas,
diretrizes, listas de verificação, relatórios, apresentações, artigos de
notícias online e jornais, artigos científicos de institutos de pesquisa e
artigos em revistas especializadas na produção de suínos.
Para cobrir a análise do período
entre a década de 1980 e o final da década de 1990 que antecipava o surgimento
do programa usei dados de estudos empíricos (teses, publicações em revistas e notícias).
O objetivo de analisar essa fase era entender o contexto no qual a atividade se
encontrava e as mudanças gerais que ocorreram no sistema de produção. Esse
período foi coberto principalmente por estudos empíricos que apresentaram a
história da produção de suínos e suas consequências ambientais relacionadas na
região (Miranda,
2005).
Os dados coletados entre 1999 e
2003 basearam-se principalmente em documentos como notícias, relatórios anuais
da empresa e apresentações em PowerPoint disponíveis online. Esses materiais
foram localizados por meio de mecanismos de busca, utilizando o nome da empresa
que iniciou o Programa Sadia e palavras-chave como manejo de dejetos suínos,
certificados ambientais, biodigestores e biorremediação. A principal fonte foi
o site institucional da empresa, que mantinha um arquivo de notícias internas
desde 2003 e relatórios anuais para investidores desde 1998. Outras páginas e
portais digitais também forneceram informações relevantes sobre novos eventos e
sobre o formato dos documentos. Os registros referentes aos períodos de 2003 e
2007 foram obtidos tanto em fontes digitais quanto em documentos cedidos pela
própria empresa durante visitas aos escritórios, além de entrevistas realizadas
com seus representantes.
Visando facilitar a identificação
dos dados par posterior análise, na análise da história do Programa 3S (Querol,
2011) os documentos coletados foram separados em três grupos: documentos de
relato, documentos operacionais e documentos explicativos. Os documentos de
relato são aqueles que descrevem o que aconteceu ou estava acontecendo, como
notícias ou relatórios de campo de técnicos. Os documentos operacionais
referem-se àqueles utilizados como ferramentas para explicar como as tarefas
devem ser realizadas, como diretrizes, normas ou documentos de design. Já os
documentos empíricos são estudos científicos. Na prática, essa diferenciação
não é muito clara, pois os documentos podem ter múltiplas características. Por
exemplo, eles podem relatar algo e também incluir um estudo. Além disso, é
possível argumentar que todos os documentos são operacionais, pois têm
significado e função para alguém. No entanto, ainda assim foi feita a escolha
de diferenciá-los para facilitar o seu uso para análise.
Como conduzir as entrevistas
históricas?
Inicialmente foram conduzidas
entrevistas com atores chaves, tais como, gerentes, engenheiros, técnicos de
campo, agricultores e um consultor. As entrevistas eram abertas e
semiestruturadas. Alguns exemplos de perguntas iniciais foram: poderia me
contar como começou o programa? Quem iniciou? Apesar de tentar evitar cortar a
linha de raciocínio do entrevistado, as vezes era necessário obter mais
informações detalhadas. Por que isso ocorreu? Quais eventos importantes
antecederam? Você lembra quando isso ocorreu?
Excerto 1. Trecho da entrevista
com Engenheiro da empresa 22/12/2006.
Entrevistador: Mas como
surgiu a ideia de produzir biogás? Por quê...?
Engenheiro: Bom.
Entrevistador: ...Que a
Sadia começou...
Engenheiro: Deixa eu te
contar a história: em 2003, eu tinha... Eu vim aqui pra São Paulo e comecei a
cuidar da área de engenharia – de engenharia de projetos e de energia pra ser
mais preciso dentro da engenharia –, e na época o Protocolo de Quioto, começou
né? Começou [...]
Além gravar as entrevistas em
áudio solicitei aos informantes que elaborassem uma linha do tempo contendo os
eventos que consideravam mais relevantes. A linha do tempo consistia,
essencialmente, em uma folha de papel em branco com uma linha horizontal, servindo
como guia para a organização cronológica. Esse instrumento mostrou-se
particularmente útil, pois auxiliou os entrevistados a sistematizarem os
acontecimentos e a revisitar mentalmente diferentes períodos, favorecendo a
recordação de fatos e permitindo que avançassem e retrocedessem no tempo de
forma mais ordenada.
Figura 1. Exemplo de linha do
tempo produzida por um dos entrevistados.
O período a partir de 2003 existia
uma disponibilidade muito mais rica de documentos, como apresentações em
PowerPoint e descrições do programa, que ajudam a confirmar a precisão das
observações sobre os eventos. Os eventos históricos foram quando possível confirmados
por meio de documentos.
4. Método de
análise (passo a passo)
O primeiro passo na análise histórica
do objeto é identificar todos os eventos históricos que conseguir encontrar nos
dados. O pesquisador, ao ler os documentos ou transcrições das entrevistas pode
ir grifando com uma certa cor as partes onde são citados eventos históricos
(ações em que alguém faz algo que muda a estrutura da atividade). Uma vez
identificados, os eventos são colocados em um arquivo e organizados em ordem
cronológica. Por exemplo, uma tabela com os eventos e as datas, organizando-os
de acordo com a sequência em que ocorreram.
Alguns eventos podem ser
repetidos em diferentes fontes de dados. Em alguns casos, por exemplo nas
entrevistas, o informante pode fornecer uma estimativa muito ampla para o
momento dos eventos, como um ano ou meio ano. Para organizar em ordem
cronológica o pesquisador vai precisar de mais detalhe da data do evento. Ao
fazer a verificação cruzada dos eventos mencionada na entrevista com outras
fontes de dados (por exemplo, documentos), pode-se refinar as datas e
defini-las de forma mais precisa, como meses ou dias. Outra forma de refinar e
validar os eventos é cruzando entrevistas de pessoas diferentes, pedindo mais
detalhes após a entrevista quando necessário ou conduzindo análises históricas
coletivas, como é o caso de pesquisas intervencionistas.
O segundo passo é escrever uma
narrativa histórica. Com base nos eventos listados na tabela ou lista, constrói-se
uma narrativa da história, visando obter uma sequência mais lógica dos
acontecimentos. Uma narrativa não apenas cita os eventos, mas os conecta de uma
forma que possa ser compreensível ao leitor. Exemplificarei a seguir quando
apresentar o exemplo da análise do programa 3S.
O terceiro passo é identificar
os eventos críticos, ou seja, os eventos que mudam a estrutura dos sistemas de
atividade (ver definição acima). Para tanto, os eventos podem ser interpretados
usando como instrumentos analíticos os elementos do sistema de atividade
(sujeito, instrumento, objeto, regras, comunidade e divisão do trabalho). Uma
estratégia para identificar eventos críticos que usei na análise do Programa 3S
foi retornar aos dados das entrevistas buscando pistas que indicassem que o
evento era importante. Por exemplo comparei entrevistas e verifiquei quais
eventos foram ressaltados pelos informantes como relevantes. Outro indicador é
quantos entrevistados mencionaram o mesmo evento.
Figura 2. Representação do processo de análise
histórica.
Um quarto passo é “cortar” a
narrativa em períodos. Como mencionado acima, um período é um trecho temporal
da sequência de eventos onde uma atividade apresenta um determinado objeto.
Para “cortar” a narrativa se busca os eventos críticos que mudaram o objeto da
atividade. O objeto determina quando um período termina e um novo começa. O
processo de mudança do objeto pode ser repentino, advindo de um evento crítico
(ex: uma nova lei ou uma visita, uma palestra) ou gradual que ocorre aos poucos
durantes, meses, anos ou décadas. O pesquisador deve buscar eventos que evidenciem
a mudança ou manifestação da mudança do objeto na atividade. (ex: algo é
descoberto, um projeto é lançado, um piloto é testado, um primeiro paciente com
uma nova abordagem, etc.). A identificação de eventos críticos pode ser
facilitada pelo uso da linha do tempo, onde os próprios entrevistados apontam
os eventos mais importantes e os inserem na linha.
Finalmente o último passo é a
interpretação teórica reconstruindo o sistema de atividade e as contradições da
atividade local específica que se está analisando. Cabe ao pesquisador decidir
se analisa ou não o sistema de atividade de todos os períodos ou se concentra
nos períodos mais recentes. Isso vai depender do objeto sob análise, o
interesse da pesquisa, e a disponibilidade de dados, entre outros. O
pesquisador pode também querer fazer uma interpretação das fases de
desenvolvimento para cada período usando como modelo o ciclo de aprendizagem
expansiva.
Ao apresentar os resultados da
análise histórica, surge a questão de como articular a interpretação teórica
com a narrativa histórica: deve-se apresentá-las conjuntamente ou em seções
separadas? Ambas as abordagens apresentam vantagens e limitações. A principal
vantagem de apresentar os resultados da narrativa histórica separados da
interpretação teórica é permitir que o leitor distinga com clareza os fatos e
resultados empíricos da interpretação realizada pelo pesquisador. Por outro
lado, a desvantagem dessa separação é que o leitor pode ter dificuldade em
reter a sequência de eventos quando chegar à seção de interpretação, exigindo
que o pesquisador retome ou reapresente os acontecimentos para contextualizar a
análise teórica.
Uma solução intermediária
consiste em indicar ao leitor, desde o início, que a interpretação teórica será
apresentada ao final de cada período histórico. Dessa forma, mantém-se
explícita a distinção entre os fatos empíricos e as interpretações, sem exigir
que o leitor memorize toda a sequência de eventos para compreender a análise. Além
disso, é importante, sempre que possível, explicitar as razões que fundamentam
as interpretações apresentadas, permitindo ao leitor compreender não apenas as
conclusões, mas também o processo analítico que as sustentou.
A figura 2 representa as
principais etapas do método de análise histórica do objeto proposto neste
estudo. Em resumo, a análise histórica do objeto é composta por quatro etapas
básicas:
- a identificação dos eventos históricos nos
dados brutos;
- a organização dos eventos identificados em
lista, em ordem cronológica;
- a identificação dos eventos críticos, ou
seja, os eventos que mudaram a estrutura do sistema de atividade;
- a elaboração de uma metanarrativa que
apresente os eventos em uma sequência lógica dos acontecimentos;
- o “cortar” a narrativa em períodos usando
como conceito analítico
- a interpretação teórica, por exemplo, usando
o modelo de sistema de atividade, contradições e o ciclo de aprendizagem
expansivo.
5. Um
exemplo de análise histórica - O surgimento e desenvolvimento do programa 3S
Para contextualizar brevemente o
leitor, o Programa 3S[1]
tinha como objetivo aumentar a sustentabilidade na produção de suínos. O
programa foi financiado pela empresa Sadia, que comprava suínos de produtores
terceirizados para utilização na produção de alimentos. No final da década de
1990 e início dos anos 2000, o contexto era de crescente poluição dos recursos
hídricos locais provocada pelos dejetos dos suínos, o que levou à assinatura de
um termo de ajuste de conduta entre o Ministério Público Estadual e as
agroindústrias locais para enfrentar o problema.
O Programa 3S consistia na
implementação de biodigestores para a produção de biogás e créditos de carbono.
A ideia central era reduzir a emissão de gases de efeito estufa provenientes da
produção de suínos, principalmente metano, por meio da captura e queima do
biogás. O projeto foi elaborado e enviado para validação pelo UNFCCC (United
Nations Framework Convention on Climate Change), permitindo que os créditos
de carbono fossem comercializados para financiar os biodigestores e gerar uma
renda adicional para os agricultores.
A seguir, apresentarei um
exemplo de dados, da narrativa histórica e sua interpretação. No trecho 2 se
pode ler um pedaço da narrativa histórica onde apresento o momento exato em que
os dejetos dos suínos mudam de significado de um resíduo causador de poluição
para uma oportunidade de renda através dos créditos de carbono. Na narrativa,
coloco em parêntesis a fonte dos dados dos principais eventos.
No
início de 2003, o Diretor Financeiro da Sadia, membro do conselho executivo,
tomou conhecimento do Protocolo de Kyoto e teve a ideia de obter créditos de
carbono a partir das florestas da empresa. As florestas já eram utilizadas como
fonte de lenha para as caldeiras das unidades de processamento de alimentos. A
ideia inicial era usar o mecanismo do Protocolo de Kyoto para aumentar de forma
mais eficiente as áreas de florestas de eucalipto (Entrevista, 22 de dezembro
de 2006).
Para
avaliar as possibilidades, no primeiro semestre de 2003, a Sadia contratou uma
empresa de consultoria (chamada aqui de Empresa Sigma) para diagnosticar e
elaborar um projeto para obtenção de créditos de carbono. Em março de 2004, a
empresa de consultoria emitiu um relatório no qual indicou que apenas três dos
vinte projetos identificados eram considerados viáveis para solicitar créditos
de carbono. Esses projetos tinham como objetivo produzir biogás a partir do
tratamento de dejetos suínos (Entrevistas de 22 de dezembro de 2006 e 16 de
maio de 2007).
Nesse
estágio, a importância do tratamento de dejetos suínos mudou: deixou de ser
apenas uma tecnologia para resolver um problema ambiental e passou a
representar uma oportunidade de gerar renda extra para a empresa. A equipe de
Sustentabilidade da Sadia foi criada para elaborar e implementar o projeto
(Documento, PDD1). A tecnologia referente ao biodigestor e à queima do gás foi
adquirida no mercado, de uma empresa chamada Sansui. Os engenheiros da Sadia
chamaram o modelo de “engenheirado”, referindo-se ao fato de que a instalação
exigia a supervisão de engenheiros.
À medida
que o Documento de Concepção do Projeto (PDD) foi elaborado, a equipe
identificou diversos benefícios econômicos e ambientais decorrentes da produção
de biogás para obtenção de créditos de carbono. O projeto foi apresentado ao
conselho executivo da Sadia, cujos membros ficaram surpresos com a grande
quantidade de toneladas potenciais geradas no projeto (242.000 toneladas em 10
anos). O conselho executivo decidiu implementar o projeto e expandi-lo para
todas as 24 unidades de produção de matrizes suínas da Sadia, o que deu início
a um segundo conjunto de “projetos de carbono”, o PDD2 (Apresentação, 30 de
maio de 2005). Em outubro de 2003, o projeto de créditos de carbono começou a
operar na Sadia (Notícia, 4 de março de 2008).
Para
resumir, durante esse período, o objetivo do gerenciamento de resíduos na
própria fazenda da Sadia mudou de um meio de ajustar a fazenda às exigências da
legislação ambiental para uma forma de obter renda extra. O evento que marcou
essa transição foi a avaliação das oportunidades de solicitação de créditos de
carbono dentro da empresa. A empresa descobriu que apenas projetos de BP
poderiam ser utilizados para solicitação de créditos de carbono. As tecnologias
adotadas, assim como a metodologia a ser aplicada, eram adequadas para grandes
fazendas.
O
desenho do Programa 3S (2004–2005)
Durante
o primeiro semestre de 2004, a equipe de Sustentabilidade da Sadia percebeu que
o projeto de carbono também poderia ser utilizado como um instrumento potencial
para adaptar as fazendas dos produtores de suínos terceirizados à legislação
ambiental, além de representar uma oportunidade de melhorar a sustentabilidade
de toda a cadeia produtiva de suínos. Eles perceberam que o projeto de carbono
poderia ser estendido a toda a cadeia de produção, ajudando a alcançar um
gerenciamento de resíduos totalmente sustentável e a resolver problemas
ambientais que estavam prejudicando a capacidade produtiva de algumas fazendas
devido à dificuldade de obtenção de licenças ambientais (Entrevista com Kátia,
maio de 2007).
Como mencionado anteriormente,
após a elaboração da narrativa, procede-se à interpretação dos eventos
históricos à luz dos elementos constitutivos do sistema de atividade. Nessa
etapa, o objetivo é identificar os eventos que desencadearam transformações significativas
no sistema. Essa classificação é fundamental para a modelagem do sistema de
atividade em determinado período e para a formulação de hipóteses sobre
possíveis contradições internas. O Quadro 1 apresenta um recorte dos eventos
críticos identificados na análise do programa 3S.
Quadro 1. Exemplos de eventos críticos e os
respectivos elementos do sistema de atividade que eles modificaram.
Evento
histórico |
Elemento
no sistema de atividade que mudou |
Reuniões
regionais para discutir o problema da poluição causada pela produção de
suínos (1993) |
Objeto:
Poluição causada pela produção de suínos se torna um problema |
Assinatura
do TAC – Termo de Ajustamento de Conduta (junho de 2004) |
Regras:
Acordo que obriga as agroindústrias a ajudarem as granjas terceirizadas a se
adequarem à legislação ambiental |
Ideia do
de usar o biogás para créditos de carbono para ajustar as granjas
terceirizadas (primeiro semestre de 2004) |
Objeto:
Produção sustentável de suínos por meio da produção de biogás para créditos
de carbono |
Consultoria
contratada para ajudar no desenho do programa (2004) |
Divisão do
trabalho: Consultor |
Fundação
do Instituto Sadia de Sustentabilidade (dezembro de 2004) |
Divisão do
trabalho: O Instituto Sadia passa a ser responsável pelo desenho e
implementação do Programa 3S |
A seguir vou apresentar um
trecho da interpretação teórica realizado na análise histórica do programa 3S. Os
eventos críticos são interpretados usando como aparato teórico os elementos do
sistema de atividade e o conceito de contradição.
[...]
Fase III
– Construção do novo objeto/motivo: A concepção do Programa 3S (2004–2005)
Em 2004,
a equipe de Sustentabilidade da Sadia identificou um novo objeto — o biogás
(BP) e os créditos de carbono — como um potencial instrumento financeiro e
tecnológico para a adequação das granjas terceirizadas. Esse novo objeto
poderia resolver, ou contribuir para resolver, a contradição existente na
cadeia produtiva de alimentos relacionada à inadequação das granjas
terceirizadas em cumprir a legislação ambiental. A ideia foi apresentada à alta
administração da empresa e aprovada.
À medida
que a equipe começou a modelar o projeto, percebeu que ele poderia favorecer a
sustentabilidade ambiental da produção de suínos como um todo. A inclusão do
manejo de resíduos e dos créditos de carbono por meio do biogás (BP) no objeto
da produção de suínos nas granjas terceirizadas ampliaria o objeto da
atividade.
Com o
lançamento do Programa de Produção Suína Sustentável da Sadia, ou Programa
3S, a Sadia expandiu o objeto de sua própria atividade ao assumir a
responsabilidade pelo desenvolvimento dos sistemas produtivos nas granjas
terceirizadas. O biogás (BP) passou, então, a ser um instrumento para alcançar
a produção suinícola sustentável.
[...]
Essa
fase corresponde à construção do novo objeto: uma produção suinícola
mais sustentável, na qual o biogás (BP) foi utilizado como instrumento para
viabilizar sua concretização.
[...]
Na descrição acima podemos
observar o momento do surgimento do um novo objeto expandido. Os dejetos de
suínos deixaram de ser vistos como uma fonte de poluição e passou a ser uma
fonte de renda através do biogás e da venda de créditos de carbono. A transformação
do objeto representa a ocorrência de aprendizagem expansiva. Essa mudança é um
evento crítico no qual o objeto muda, e caracteriza o surgimento de um novo
período de desenvolvimento. A análise pode prosseguir apresentando a estrutura
do sistema de atividade no final do período e as potenciais contradições
históricas que afetaram o sistema no passado e no presente.
6. Conclusões
O presente estudo apresentou um
método de análise histórica fundamentado na Teoria Histórico-Cultural da
Atividade, com o objetivo de explicitar como reconstruir o desenvolvimento de
um sistema de atividade ao longo do tempo. A proposta enfatiza a importância da
historicidade como princípio epistemológico e metodológico para compreender as
transformações impulsionadas por contradições internas nos sistemas de
atividade.
O artigo contribui ao
sistematizar, de modo detalhado, um procedimento analítico capaz de
operacionalizar o princípio da historicidade na THCA. O método proposto integra
conceitos como evento histórico, evento crítico, período desenvolvimental e
ciclo expansivo de aprendizagem, articulando-os em um roteiro metodológico
passo a passo. Essa sistematização oferece uma ferramenta analítica (Figura 2) para
compreender a gênese e o desenvolvimento de objetos de atividade e suas
contradições. Além disso, ao propor o uso combinado de diferentes escalas e fontes
de dados, o método reforça a confiabilidade e validade dos resultados.
O método sugerido pode ser
aplicado em pesquisas empíricas que visem compreender o surgimento e
desenvolvimento de atividades humanas. A aplicação ilustrada por meio da
análise do Programa 3S demonstrou como o método permite identificar os eventos
críticos que configuram a trajetória de desenvolvimento de uma inovação.
O método apresentado neste
estudo constitui uma proposta possível, que deve ser sempre adaptada ao objeto
de análise, aos tipos de dados disponíveis e aos objetivos específicos da
pesquisa. A versão aqui desenvolvida foi elaborada para examinar o desenvolvimento
histórico de um fenômeno relativamente bem delimitado — um programa corporativo
de produção sustentável de suínos —, configurando, portanto, um sistema de
atividade claramente definido.
Contudo, a crescente
complexidade das práticas sociais contemporâneas, marcada pela intensificação
da divisão social do trabalho e pela interdependência entre múltiplos sistemas
de atividade, demanda a adoção de unidades teóricas de análise mais amplas e
dinâmicas, como redes de sistemas ou coalizões heterogêneas de atividades. Esse
cenário aponta para a necessidade de novos estudos que adaptem o método aqui
proposto ou desenvolvam abordagens alternativas capazes de dar conta dessas
formas mais complexas de interconexão e transformação histórica.
Apesar dessas restrições, o
método proposto oferece uma contribuição relevante para o avanço metodológico
dos estudos baseados na THCA, ao tornar mais explícitos os procedimentos para
analisar o desenvolvimento histórico das atividades humanas.
Agradecimentos
Agradecimento pelos comentários de Renata Matsmoto, Nataly Gardona e Dayse Rodrigues.
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[1]
Por
questão de espaço não apresentarei todo resultado da análise histórica do
Programa 3S. A intenção é apenas ilustrar o uso dos conceitos analíticos e as
etapas da análise. Quem tiver interesse em ler os resultados na integra poderá
fazê-lo acessando minha tese de doutorado (Querol,
2011).
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