8. Oficina de Capacitação dos participantes com o vídeo da Caça ao Mamute

 

Caça ao Mamute

Por Marco Antonio Pereira Querol

 

No grupo de pesquisa em Promoção da Saúde e Prevenção de Acidentes de Trabalho (PesquisaAT), foi implementada, em algumas intervenções, uma fase preliminar de capacitação. Essa etapa consiste em oficinas de formação nas quais os participantes são introduzidos a conceitos centrais da Teoria da Atividade, como o modelo do sistema de atividade, o conceito de contradição e o princípio da estimulação dupla. Embora não façam parte do modelo original do Laboratório de Mudança (LM), essas oficinas representam, até onde se sabe, uma inovação específica das intervenções conduzidas pelo grupo. Elas possibilitam que os participantes não apenas aprendam os conceitos, mas também os experimentem em prática, funcionando como um “test drive”.

A formação inicia com uma exposição teórica, seguida pela apresentação do vídeo “Caça ao Mamute – Pré-Histórica Caza del Mamut”[1], com duração aproximada de sete minutos. O vídeo é utilizado tanto em sessões presenciais quanto em encontros online (Figura 1) e funciona como um primeiro estímulo, ao narrar mudanças na atividade de caça primitiva.

O enredo retrata um grupo de caçadores acostumados a caçar animais de pequeno porte. Com o aquecimento climático, ocorre a migração dos mamutes, oferecendo uma nova oportunidade de caça. Nesse contexto, a caça ao mamute se torna um novo objeto da atividade, trazendo a possibilidade de maior produção de alimentos e couro. Contudo, os caçadores não dispõem de conhecimento, ferramentas, divisão de trabalho ou organização comunitária adequados para lidar com esse novo objeto, o que resulta em um acidente fatal e na morte de um dos integrantes do grupo. A narrativa prossegue mostrando como os caçadores se reorganizam coletivamente, experimentam novas técnicas e formas de colaboração, alcançando, por fim, um resultado bem-sucedido: a captura do mamute.

Após o vídeo, os participantes são convidados a analisar a estrutura do sistema de atividade da caça coletiva e as contradições que levaram ao incidente. Dessa forma, o material serve como exercício para consolidar os conceitos teóricos apresentados, ilustrar o princípio da estimulação dupla aplicado no LM e praticar a dinâmica de análise coletiva.

Interface gráfica do usuário, site

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Figura 4: Imagem do vídeo usado no treinamento dos participantes durante as sessões de treinamento.

O exercício cumpre múltiplas funções de aprendizagem. A primeira, e mais evidente, é a elucidação dos conceitos apresentados, como o modelo do sistema de atividade (AS) e o conceito de contradição. Ao interpretar o vídeo com base nesses conceitos, os participantes os esclarecem e consolidam, aumentando tanto a probabilidade quanto a qualidade de seu uso nas sessões posteriores do LM. Além disso, por retratar uma atividade neutra (isto é, distante da realidade vivida pelos participantes), o vídeo facilita a concentração nos conceitos e a construção coletiva.

Um segundo resultado relevante — ainda que não planejado inicialmente — é o uso espontâneo do vídeo como primeiro estímulo para a análise da própria atividade dos participantes. Mesmo sem essa orientação, é comum que surjam comentários do tipo: “Qual é o nosso mamute?” ou “Quem é o nosso xamã?”. Nesses casos, o exercício promove não apenas a aprendizagem dos conceitos teóricos, mas também uma primeira discussão sobre os problemas e a estrutura da atividade real, funcionando como uma experimentação motivadora das futuras sessões. Nesse sentido, o vídeo constitui um primeiro estímulo e os conceitos um segundo estímulo, o que caracteriza uma aplicação prática — ainda que inicial — do princípio da estimulação dupla e contribui para a formação de agência.

Outro aspecto relevante é o caráter acessível do material. Frequentemente, os participantes demonstram hesitação inicial em assistir ao vídeo, por considerá-lo simples ou trivial. No entanto, essa simplicidade favorece a concentração nos conceitos e, por ser um recurso neutro, evita resistências. Na prática, observa-se que após essa breve hesitação inicial, ocorre ampla participação, e o exercício atua também como um “quebra-gelo”, promovendo a interação entre os membros do grupo. A avaliação dos participantes costuma ser bastante positiva, o que reforça sua relevância para a preparação das etapas seguintes da intervenção.

Cabe ressaltar, contudo, que houve pelo menos um caso em que o uso do vídeo não se mostrou produtivo: quando o material foi exibido em outro idioma, dificultando o acompanhamento das legendas. Esse exemplo evidencia a importância de selecionar cuidadosamente os materiais-espelho, assegurando sua adequação ao público-alvo.

 

 

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