Aprendizado, Desenvolvimento e a Zona de Desenvolvimento Proximal

 

 

A relação entre aprendizado e desenvolvimento e Zona de Desenvolvimento Proximal

Texto de Marco Querol

A aprendizagem dos níveis I e II corresponde ao que normalmente chamamos simplesmente de aprendizagem, enquanto a aprendizagem de nível III, cujo objeto é todo o sistema de atividade, é frequentemente designada como desenvolvimento. Contudo, como destaca Engeström (1987), essa categorização é problemática, pois os três níveis estão dialeticamente conectados, formando uma unidade. A aprendizagem de níveis I e II está imersa na aprendizagem de nível III. Em outras palavras, o desenvolvimento (aprendizagem III) somente ocorre como resultado da aprendizagem (níveis I e II). Para desenvolver, é necessário aprender; o desenvolvimento é, portanto, precedido e sustentado pela aprendizagem.



A resolução de contradições, por exemplo, exige aprendizagem do tipo IIb — a experimentação — na qual o sujeito formula hipóteses, constrói modelos e os testa. Como já discutido em outro momento, definimos desenvolvimento como a resolução de contradições em uma determinada direção. Mas qual seria essa direção?

Segundo Engeström (1987), a direção do desenvolvimento se orienta pelo fato de que as atividades humanas tornam-se progressivamente mais societal. Isso implica três consequências principais.

Primeiro, as atividades passam a ser cada vez mais amplas, volumosas e densas em comunicações, impactando um número crescente de pessoas. Segundo, aumenta a interdependência entre diferentes sistemas de atividade, que passam a formar redes cada vez mais complexas e hierarquias de interações. Terceiro, essa interdependência é moldada por leis sociais e econômicas, bem como pelas contradições estruturais da sociedade.

Assim, a direção do desenvolvimento pode ser entendida como o movimento pelo qual as atividades tornam-se cada vez mais interconectadas e, simultaneamente, mais expostas às turbulências sociais.

Vygotsky (1978, p. 86) define Zona de Desenvolvimento Proximal como "a distância entre o nível de desenvolvimento real, determinado pela solução de problemas de forma independente, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob orientação ou em colaboração com pares mais capazes".

A ideia de Vygotsky é que para resolver problemas, as pessoas utilizam artefatos culturais que acumulam o conhecimento histórico humano. Tais artefatos tornam as pessoas mais independentes do contexto imediato e abrem novas possibilidades futuras de desenvolvimento, transformando-as em agentes proativos, em vez de simples reatores. Aprendizado permite o sujeito se mover na zona proximal de desenvolvimento.

Engeström (1987) reformulou o conceito de ZDP aplicando-o ao nível da atividade coletiva. Para ele, a ZDP

 "é a distância entre as ações cotidianas atuais dos indivíduos e a nova forma histórica de atividade social que pode ser gerada coletivamente como uma solução para o duplo vínculo potencialmente embutido nas ações cotidianas" (p.86).

Tanto para Vygotsky (1978) quanto para Engeström (1987), a ZDP refere-se à distância entre a situação atual e a situação futura em que um problema será resolvido. Enquanto em Vygotsky (1978) a resolução ocorre por meio da colaboração entre pares e do uso de ferramentas culturais mais avançadas, em Engeström (1987) contradições que não podem ser resolvidas individualmente são superadas coletivamente na atividade coletiva, exigindo não apenas novas ferramentas, mas também a criação de um novo objeto e novas relações sociais.

 

 

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