O que são generalizações na Teoria da Atividade?
Generalizações na Teoria da
Atividade: origens, processo, tipologia e metodologia
por Marco Antonio Pereira
Querol
mapquero@gmail.com
Compreender o processo de generalização tem implicações tanto práticas quanto metodológicas. Do ponto de vista prático, saber o que é uma generalização e como ela é produzida é fundamental para poder fomentá-la. Do ponto de vista metodológico e científico, é importante entender os diferentes tipos de generalização existentes e o processo pelo qual elas são geradas, a fim de alinhá-los com dados e métodos analíticos que garantam validade científica.
Esta postagem busca responder às
seguintes perguntas: Qual é a origem do conhecimento na Teoria da Atividade
(TA)? Como as generalizações são armazenadas e transmitidas? Como elas são
produzidas? Quais tipos de generalização existem? Que tipo de generalização um
Laboratório de Mudança (LM) busca produzir? E, por fim, quais são as
implicações metodológicas para que as generalizações produzidas em um LM sejam
cientificamente válidas?
A TA baseia-se em uma
epistemologia distinta e busca produzir um tipo específico de conhecimento, ou
generalização, chamada generalização teórica. A forma de produzir
esse conhecimento científico difere significativamente de outras perspectivas,
o que pode gerar incertezas em pesquisadores oriundos de formações distintas. Começo
discutindo sobre a epistemologia na TA. Abaixo apenas repito e sintetizo as
ideias de outros autores, para uma visão completa sobre generalizações na
Teoria da Atividade ver Pihlaja (2005).
Epistemologia na TA
Epistemologia é uma palavra usada
por filósofos que se refere ao estudo da origem do conhecimento. Portanto, a
epistemologia na Teoria da Atividade quer dizer como a TA entende de onde vem o
conhecimento, como ele é criado e se forma.
Na Teoria da Atividade, a origem
do conhecimento é a atividade humana, na qual o sujeito transforma o objeto. O
conhecimento é gerado a partir de ações práticas no qual o sujeito transforma
seu meio.
O filósofo Ilyenkov (1977) propõe
um percurso para compreender o surgimento do pensamento humano e o processo de
criação de conhecimento e conceitos. Segundo ele, o primeiro passo ocorre
quando o indivíduo se depara com um objeto (uma coisa ou objeto ainda como
matéria-prima). Em seguida, o sujeito age sobre esse objeto, explorando-o,
medindo-o, avaliando-o (uma ação). A partir dessa interação prática,
forma-se uma imagem mental idealizada projetada do que o objeto pode ser (um
conceito que pode ou não ser expressado em uma palavra). Na sequência, o
indivíduo volta a agir sobre o objeto (uma ação), agora guiado por esse
conceito, transformando-o em um resultado concreto, um produto do trabalho (uma
coisa, ou objeto como resultado ou produto). Esse percurso pode ser resumido
pela fórmula: coisa → ação → palavra → ação → coisa. Embora o
próprio processo real seja muito mais complexo e nem sempre siga essa ordem
linear, a ideia central de Ilyenkov é que o conceito ou a ideia somente surgem
a partir do objeto e da interação prática do sujeito com ele, não podendo
preceder a prática.
Para transformar um objeto
matéria prima em produto ou resultado, o sujeito considera tanto suas
propriedades externas quanto internas — aquelas que possibilitam sua
transformação. Essas propriedades não se revelam sem a prática transformadora
ou fora dela, e exigem uma certa reflexão.
O objeto só se transforma por
meio da aplicação do que Davydov (1990) chama de certos modos de atividade. Ao
repetir o processo de transformação do objeto diversas vezes, os indivíduos
descobrem quais são os modos de atividades essenciais, ou seja, as condições
necessárias para transformá-lo — revelando as suas propriedades.
O processo de descoberta das
propriedades do objeto ocorre em duas circunstâncias principais. A primeira é a
reprodução do processo de transformação do objeto ocorre de forma repetida,
ocorre em condições e situações externas mais ou menos variáveis. Ou seja, cada
vez que o objeto é reproduzido as condições podem variar. A segunda é que a
transmissão, de uma pessoa para outra e de uma geração para outra, do
conhecimento sobre os modos de atividade que possibilitam essa transformação,
utilizam modelos e padrões. Essas duas circunstâncias exigem que os indivíduos
identifiquem e estabeleçam apenas as condições essenciais e realmente
necessárias para reproduzir uma determinada forma de movimento dos objetos. As
condições incidentais são “filtradas”, restando apenas aquelas que, de fato e
necessariamente, determinam os modos de atividade.
Sinais, palavras e ferramentas
como generalizações
Ao repetir uma operação diversas
vezes em condições variáveis, o indivíduo descobre as propriedades, condições e
modos de atividade que levam ao movimento ou à transformação de um objeto — ou
seja, produz uma generalização. Essa generalização, num primeiro momento, é
mental e cognitiva, permanecendo no âmbito interno do indivíduo. No entanto,
diante da necessidade de transmiti-la e cooperar, o indivíduo cria sinais ou
palavras que a representam. Portanto, tanto os sinais, como as palavras, são,
conforme apontado por Vygotsky (1978), reflexos generalizados da realidade — ou
seja, generalizações.
Os sinais e representações não
são apenas produtos de uma ação ou experiência, mas também mediadores no
próprio processo de sua construção. Em outras palavras, generalizações são
utilizadas para produzir novas generalizações — ou seja, o próprio processo de
generalização é mediado. Os seres humanos não são “caixas vazias”: desde o
nascimento, absorvem sinais e ferramentas que mediam não apenas suas ações
externas para transformar o meio, mas também seus pensamentos. A percepção
humana recorre a conhecimentos prévios, de origem tanto individual quanto
social. Utilizamos conceitos, modelos e teorias para interpretar o mundo e
elaborar nossas próprias generalizações. Entre os seres humanos, uma
generalização passa a adquirir a forma de um artefato cultural, transmitido de
pessoa para pessoa e de geração em geração. Nesse processo, ela evolui e se
desenvolve.
Leontiev (1933) aponta que as
generalizações não estão presentes apenas em sinais e palavras, mas também
estão incorporadas nas ferramentas. As ferramentas carregam, de forma
implícita, conhecimentos sobre o que elas são, como funcionam, quais propriedades
do objeto permitem que sejam transformadas por elas e de que modo essa
transformação ocorre. Aprender a usar uma ferramenta é aprender a realizar
a operação que ela foi criada para mediar (Leontiev, 1933).
Resumindo, tanto ferramentas como
sinais e palavras carregam generalizações de operações, eventos ou objetos.
Essas generalizações mediam tanto ações de comunicação, que possibilitam a
cooperação, quanto ações diretas de transformação do mundo externo e ações
cognitivas internas relacionadas ao pensamento, à reflexão e ao autocontrole do
próprio indivíduo. As generalizações não apenas se originam da atividade
humana, mas também se desenvolvem nela. Sem generalizações, não seria possível
a comunicação, a cooperação nem o uso de ferramentas.
Tipo de generalizações
Generalizações
perceptivo-funcional
Como proposto por Luria (1976), o
tipo de generalização predominante em uma sociedade ou comunidade depende do
modo de atividade dominante no qual seus indivíduos estão envolvidos. Em
sociedades onde prevalecem atividades artesanais e trabalhos manuais, tende a
predominar a generalização perceptivo-funcional, na qual ideias e
conceitos são vinculados a uma situação prática e concreta específica. Nesse
tipo de pensamento, um objeto é sempre associado à função prática que
desempenha em determinado contexto. Por exemplo, o martelo é associado a função
de pregar um prego sendo ligado a pregos e madeira — em vez de ser categorizado
como “uma ferramenta” no sentido abstrato.
Comparando com o pensamento
perceptivo-funcional, no pensamento mais abstrato, o objeto é retirado de
uma situação específica e inserido em uma categoria geral, como “ferramentas”
ou “objetos cortantes”, ou ainda classificado de acordo com atributos como
forma ou função geral. A abstração permite que a generalização seja aplicada a
diferentes casos, possibilitando ao indivíduo estabelecer relações lógicas
independentes de um contexto prático. Por outro lado, a generalização
situacional é mais específica para determinada circunstância: “em uma
situação X, deve-se fazer Y”. Esse tipo de generalização costuma ser
incorporado aos hábitos, operações automatizadas e transmitido por meio de
gestos, fala ou imagens.
A generalização
perceptivo-funcional tenderia a predominar em sociedades com trabalho mais
artesanal, caracterizadas pela manipulação prática de objetos, enquanto as
generalizações mais abstratas seriam mais frequentes em sociedades
tecnologicamente avançadas, com uma divisão de trabalho mais complexa e trocas
mediadas pelo dinheiro (Pihlaja, 2005).
Generalizações empíricas
Davydov (1990) aponta que, em
sociedades industrializadas, com maior divisão do trabalho e educação formal,
tende a predominar o modo de generalização empírica. Esse tipo de
generalização é caracterizado pela abstração a partir de características
visuais e observáveis de um objeto ou fenômeno. A generalização empírica
está centrada na realidade imediata, observável e mensurável, interessando-se
por aspectos como número, quantidade, qualidade, propriedades e mensuração.
Baseia-se, portanto, em dados sensoriais diretamente perceptíveis.
As generalizações empíricas
baseiam-se na observação e comparação das propriedades externas dos objetos. Ao
observar um objeto, o indivíduo identifica propriedades semelhantes e, a partir
disso, cria uma classe de objetos com características comuns. Esse processo se
baseia em encontrar e isolar certas propriedades estáveis e recorrentes dessa
classe de objetos (Davydov, 1990).
O processo de formação de uma
generalização empírica envolve identificar algo invariante em objetos ou
processos e atribuir uma palavra a essa invariável. Essa característica comum,
uma vez nomeada, passa a ser utilizada para reconhecer objetos dentro de um
determinado conjunto.
Por exemplo, um indivíduo observa
uma série de objetos e percebe que todos possuem uma forma arredondada. A
invariável, nesse caso, é a forma arredondada, que recebe um nome para designar
a categoria — por exemplo, “bolas”.
O conteúdo de um conceito
empírico corresponde às características comuns presentes em uma classe de
objetos. Esse tipo de generalização possibilita a classificação, a
sistematização e o estabelecimento de conexões entre fenômenos ou seres. Além
disso, permite associar eventos sucessivos e estabelecer relações de causa e
efeito por meio de métodos semelhantes (Pihlaja, 2005).
Como aponta Pihlaja (2005), esse
tipo de generalização segue um percurso do concreto ao abstrato, no qual, a
partir da observação, elabora-se uma abstração linguística. Aqui, “concreto”
refere-se a um objeto que pode ser diretamente observado, enquanto “abstrato”
diz respeito a aspectos ou características comuns a vários objetos.
A criação de generalizações
empíricas segue o raciocínio indutivo: parte-se de um ou vários casos concretos
para, posteriormente, construir uma lógica abstrata que agrupa objetos em
classes.
É importante destacar que as
generalizações empíricas não se limitam à descrições de algo; elas também podem
incluir explicações. No entanto, essas explicações se baseiam em observações de
eventos sequenciais e em relações de causa e efeito, ou seja, a causalidade em
uma sequência, determinando a partir de observação empírica modos de atividade
que permitem o movimento ou a transformação de um objeto. Uma das formas de
alcançar isso é por meio do estabelecimento de relações causais entre eventos.
Segundo Engels, citado por
Davydov (1990), a observação uma sequência de eventos, um após o outro, não
constitui, por si só, prova de conexão causal. A única maneira de demonstrar
tal conexão é por meio da experimentação. Ao repetir deliberadamente uma
sequência de eventos, torna-se possível eliminar conexões acidentais ou
ocasionais, que podem ocorrer por coincidência, mas não fazem parte da relação
causal. A variabilidade é essencial para ocorrer o aprendizado. Marton (2000)
aponta que a variação possibilita que o sujeito distinga o que é essencial e o
que é irrelevante. Assim, o indivíduo consegue identificar as conexões
internas, universais e essenciais entre os eventos observados.
A experimentação na atividade científica
recria as condições necessárias para produzir determinado movimento ou
transformação, coleta dados e os analisa
estatisticamente. A experimentação não é exclusividade da ciência: a própria
atividade humana e o trabalho possuem, em sua essência, um caráter
experimental. Ao recriar, por meio de uma ação, as condições de reprodução de
um movimento ou evento, o indivíduo é capaz de descobrir as propriedades
responsáveis por sua ocorrência. Dessa forma, formula-se uma generalização —
uma espécie de lei universal: sempre que tais condições ocorrerem, o movimento
ou evento será produzido.
Davydov (1990) também chama a
atenção para que o processo de experimentação é sempre parte de um contexto
social mais amplo; ou seja, os objetos e eventos fazem parte da experiência do
indivíduo com base em necessidades sociais.
Generalizações
teórico-genéticas
Uma generalização
teórico-genética identifica o princípio geral que explica o surgimento ou a
produção de um fenômeno (Pihlaja, 2005). Ela é elaborada a partir da análise
das relações internas da estrutura de um sistema, buscando identificar a
relação essencial que leva à sua manifestação. Esse tipo de generalização é
construído por meio da transformação dos objetos, permitindo compreender como
determinados elementos estruturais se articulam para gerar um fenômeno. A
Tabela 1 compara as principais características de uma generalização teórica e
de uma generalização empírica.
Tabela: Comparação entre
generalização abstrato-empírica e teórico-genética (Pihlaja, 2005)
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É produzida comparando objetos e suas representações. |
É produzida a partir da análise de certas relações dentro de um
sistema estruturado. |
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Identifica a propriedade formalmente geral de objetos particulares
para atribuí-los a uma determinada classe formal, independentemente de
estarem ou não conectados entre si. |
Identifica a relação essencial entre as coisas, que constitui a base
genética de todas as outras manifestações do sistema. |
||
Baseia-se na observação, refletindo as propriedades externas dos
objetos e apoiando-se completamente em concepções visuais. |
Baseia-se na transformação de objetos, refletindo suas relações e
conexões internas. |
Na Teoria da Atividade, um
exemplo de generalização teórico-genética é a identificação das contradições
que deram origem ao sistema e orientaram o seu desenvolvimento, bem como dos princípios
fundamentais que possibilitaram a resolução dessas contradições. Essa unidade —
formada pelas contradições e pelos princípios que as solucionam — é denominada célula
germinal, por representar a menor unidade básica que contém, de forma
condensada, os elementos essenciais do sistema.
O método do Abstrato ao
Concreto
No uso cotidiano, “concreto” é
entendido como algo que pode ser percebido, sentido, mensurado ou tocado,
enquanto “abstrato” é aquilo que existe apenas na mente. Na dialética
materialista, porém, esses conceitos assumem outro significado: concreto
refere-se a um sistema inteiro, interconectado e contraditório por natureza; abstrato
é algo extraído ou isolado, que representa apenas um aspecto ou parte de um
todo (Ilyenkov, 1982).
Para compreender um elemento de
um sistema, é necessário analisá-lo em relação ao sistema total do qual faz
parte, entendendo o papel que desempenha e conhecendo o processo histórico que
levou ao seu surgimento e à sua forma atual. Assim, compreender a emergência de
um objeto exige reconstruir os eventos, contradições e relações específicas que
lhe deram origem.
Na dialética materialista,
utiliza-se o método do abstrato ao concreto para produzir generalizações
teórico-genéticas. Trata-se de um método que envolve uma análise histórica de
um objeto ou fenômeno, na qual o investigador busca compreender seu
desenvolvimento desde a relação contraditória original — ou célula germinal —,
inicialmente única e isolada (e, nesse sentido, abstrata), até sua forma madura
e complexa atual.
Como aponta Miettinen (2000), o
estudo começa com a análise do sistema como um todo — isto é, o concreto —,
investigando seu funcionamento, seus elementos e suas manifestações. A partir
dessa visão global, abstrai-se a célula germinal básica (por exemplo, as
contradições e os princípios que as resolvem). Em seguida, retorna-se ao todo,
agora enriquecendo progressivamente a abstração, incorporando elementos mais
específicos, fenômenos e relações derivados da célula germinal.
Resumo
Começamos esta postagem falando
sobre a epistemologia na Teoria da Atividade. Nessa perspectiva, a origem do
conhecimento está na atividade humana: é por meio da transformação do meio que
o conhecimento é produzido. Esse conhecimento sobre o mundo, chamado generalizações,
é transmitido de uma pessoa para outra através da linguagem.
Sinais e palavras, assim como
ferramentas, funcionam como depósitos de generalizações da realidade. Ao serem transmitidas
de pessoa para pessoa e de geração em geração, essas generalizações se
transformam, evoluem e se desenvolvem.
Em seguida, vimos que existem,
pelo menos, três tipos de generalizações: perceptual-situacional, empírico-abstrata
e teórico-genética. A generalização perceptual-situacional refere-se a
conhecimentos diretamente vinculados a uma situação prática e concreta
específica. Por exemplo, uma descrição de algo baseado na função prática que
ela tem em uma operação, ação ou atividade. A generalização empírico-abstrata,
por sua vez, envolve classificações, descrições, categorizações ou explicações
produzidas a partir de observações empíricas diretas, sendo elaborada por meio
de processos como quantificação, mensuração e descrição qualitativa ou
quantitativa de um fenômeno. Finalmente, as generalizações teórico-genéticas
têm como objetivo compreender as relações internas de um sistema que levaram ao
surgimento de um objeto ou fenômeno, ou seja, explicar o porquê e o como algo
emergiu a partir de suas contradições internas.
Generalizações na Teoria da
Atividade e no Laboratório de Mudança
De forma resumida, pode-se dizer
que a TA é um conjunto de conceitos e teorias que permitem descobrir as
propriedades internas — as relações internas essenciais de um sistema — que
permitem a transformação de um objeto ou fenômeno. Em outras palavras, trata-se
de compreender como e por que um sistema se tornou o que é, investigando sua
origem e as forças que o transformam.
Que tipo de generalização um
Laboratório de Mudança (LM) busca produzir? A resposta é: depende. Se o
objetivo de um LM é promover o aprendizado expansivo — ou seja, expandir o
objeto-propósito da atividade e gerar um novo modelo —, é fundamental
compreender as contradições históricas e os princípios que visam resolvê-las,
ou seja, identificar a célula germinal, que constitui uma generalização
teórico-genética.
No entanto, não se trata de
julgar qual tipo de generalização ou método é superior ou mais desejável; ambos
são necessários, pois se complementam. As generalizações empírico-abstratas
precisam das generalizações teórico-genéticas para compreender o porquê do que
está sendo observado. Da mesma forma, as generalizações teórico-genéticas
dependem das generalizações empírico-abstratas para se enriquecerem e se
dirigirem ao concreto. Assim, a questão não é qual tipo de generalização
utilizar, mas como integrá-las de maneira complementar.
Em LM, ambos os tipos de
generalizações e métodos são empregados. Geralmente, inicia-se com
generalizações empíricas, baseadas na observação da atividade e na análise de
dados concretos. Em seguida, realizam-se análises históricas para produzir
abstrações que permitam compreender as contradições e identificar princípios
para solucioná-las — processo que corresponde a uma generalização
teórico-genética. Para enriquecer o modelo, desenvolvem-se análises
empírico-abstratas. A partir delas, constrói-se um novo modelo abstrato, que
gradualmente se enriquece e se concretiza.
Implicações metodológicas
Quais métodos o pesquisador deve usar
em uma pesquisa baseada na Teoria da Atividade? Obviamente que o método depende
diretamente das perguntas de pesquisa. Por exemplo, se o objetivo da pesquisa é
identificar os tipos de manifestações de contradições em uma atividade ou os
tipos de ações que os agentes realizam, tende-se a produzir generalizações
empírico-abstratas. Por outro lado, se a pesquisa busca compreender por que um
sistema de atividade é como é, analisando suas contradições internas e suas
possibilidades de desenvolvimento, o resultado será uma generalização
teórico-genética, e será necessário um método como uma análise histórica.
Em geral, pode-se afirmar que o
maior potencial de um LM e da Teoria da Atividade reside na produção de
generalizações teóricas capazes de explicar por que um sistema de atividade é
como é — ou seja, de revelar as contradições históricas que o configuraram e
que orientam seu desenvolvimento. Do ponto de vista metodológico, esse conhecimento
emerge apenas durante o processo de transformação do objeto. Daí a relevância da
análise de dados longitudinais, que podem incluir, por exemplo, a análise
histórica, a identificação de distúrbios, de inovações e de iniciativas, bem
como o exame das interações sociais e dos discursos.
A validade científica da
generalização teórico-genética produzida a partir da Teoria da Atividade e o LM
reside na análise aprofundada e na compreensão dos princípios subjacentes ao
sistema de atividade. Seu maior potencial está em produzir um entendimento
sobre a origem e a trajetória desse sistema, bem como em possibilitar a
construção de um novo modelo para seu desenvolvimento. Para isso, promove-se a
experimentação por meio de intervenções na vida real.
As intervenções tornam-se, assim,
uma estratégia central para reproduzir processos de transformação que, de outro
modo, seriam raros ou difíceis de registrar em condições naturais. Elas
permitem, em certa medida, testar hipóteses, controlar variáveis e diferenciar
condições externas redundantes das condições internas essenciais. A intervenção
configura-se, portanto, como uma forma de experimentação na realidade, capaz de
gerar conhecimento por meio da própria transformação. As generalizações
resultantes fortalecem intervencionistas e profissionais, permitindo-lhes
projetar coletivamente um futuro mais sustentável para suas atividades.
Referências
Davydov V.V. (1990). Types of generalization in
instruction: Logical and Psychological problems of Structuring School
Curricula. Reston, Virginia: National Council of Teachers of Mathematics.
lyenkov, E.V. (1977). Dialectical logic: Essays
in its history and theory. Moscow: Progress.
Ilyenkov, E.V. (1982). The dialectics of the
abstract and the concrete in Marx’s Capital. Moscow: Progress.
Leontyev, A.N. (1933). Notes on consciousness I
and II. Multidisciplinary Newsletter for Activity Theory. (3–4), I–VIII.
Luria, A.R. (1976). Cognitive Development, its
Cultural and Social Foundations. Gambridge: Harvard University Press.
Pihlaja, J. (2005). Learning in and for
production: An activity-theoretical study of the historical development of
distributed systems of generalizing (Doctoral dissertation, Helsingin
yliopisto).
Marton, F. (2000). Variatio est
mater studiorum. Magyar Pedagógica, (100/2),127–140.
Miettinen, R. (2000). Ascending from Abstract
to the concrete and Constructing a Working Hypothesis for New Practices. In V.
Oittinen (Ed.) Evald Ilyenkov’s Philosophy Revisited. Helsinki:
Kikimora.
Vygotsky, L.S. (1978). Mind in Society: The
development of higher psychological processes. Cambridge: Harvard
University Press.
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